sábado, 10 de novembro de 2012

O Conceito de Tao na MTC


O Tao


“O Tao que pode ser pronunciado não é o Tao eterno. O nome que pode ser proferido não é o nome eterno...”. (TAO TE CHING, cap I,1995,p 37).
Tentar definir o Tao é definir o indefinível, explanar sobre o inefável. Pois o Tao verdadeiro se oculta e se esconde por entre as forma manifestas do mundo. Sua existência brota do vazio, da não forma e sua compreensão está além do intelecto racional.
A Palavra Tao possui o Sentido de Via ou Caminho e as primeiras menções ao Tao pode ser encontrado tanto no Livro das mutações (I Ching) Quanto no Clássico da filosofia Taoísta, O Livro do Caminho Perfeito (Tao Te Ching, escrito pelo sábio chinês Lao Tsu). Que propõe o Caminho do sábio, Através da via harmoniosa da vida e da natureza. Viver de acordo com o Tao segundo Lao Zi é saber respeitar o fluxo da natureza, os ciclos das estações e do cosmos. Se enquadrando na formação ternária Céu, homem, terra. Assim como os sábios imortais Taoistas que viveram segundo o Tao e atingiram a longevidade, saúde e realização espiritual, como vemos no capítulo I do Nei Jing Su Wen no dialogo entre Huang Ti e o Mestre Qi Bo:
Aqueles que nos tempos antigos Conheciam a maneira de conservar uma boa Saúde, sempre nortearam seu comportamento do dia-a-dia de acordo com a natureza. Seguiam o principio do yin e Yang e se conservavam de conformidade com a arte da profecia, baseada na interação do Yin e Yang. Eram capazes de modular sua vida diária em harmonia, de forma a recuperar a essência vital, portanto podiam se cuidar e praticar a maneira de preservar uma boa Saúde.(SU WEN apud WANG, cap.1,2001,p.25)




Seguir o Tao implicava não somente em uma observação da natureza, mas bem como nas práticas taoístas de manutenção da saúde e da força vital, existentes na medicina Tradicional Chinesa tais como: Chikung, dietética, acupuntura, Moxabustão e etc.
Tentar entender o Tao e seu conceito dentro da MTC é levar a cabo a compreensão da ínfima parte deste, que se mostra na natureza, através das potencialidades representadas no símbolo do Tai Chi, nas formas do Yin e Yang, estes em última instância, são os únicos aspectos do Tao os quais podem ser observados e percebidos por estas duas forças opostas,contudo complementares. No Plano Absoluto do Tao impera o vazio como força manifesta e como potencialidade no plano manifesto e relativo do yin e yang.

O Yin/Yang são as manifestações transitórias do Tao.
O Tao gera duas polaridades complementares: o Yang e Yin, sendo que o Yang contém o Yin e vice-versa. Ambos interagem, transformando-se num ciclo ritmado, o Tai Ji.(DULCETTI JUNIOR, 2000,p.43).

 Tai Chi



 O Tai Chi (Tai Ji) e sua simbologia aparecem pela primeira vez no clássico de sabedoria oracular denominado I Ching (O Livro das mutações) e remonta a dinastia Chou(1150-249 a.C.), Curiosamente segundo Henry Normand (1993) em seu celebre livro Os Mestres do Tao o “Sentido geral do I Ching está incluído no caráter do I, que significa Camaleão”, daí a tradução por mutação ou transformação. Pois assim como o cameleão muda de cor conforme o lugar e situação, assim é a natureza do Tao no plano relativo do Yin e Yang. O mesmo pode ser observado no I Ching pelos seus signos denominados Kua, que a partir de combinações de linhas Yin e yang no formato de dois trigramas, formam um dos 64 hexagramas, os quais  representam os movimentos ou manifestações transitórias do Tao na Natureza, bem como os movimentos de transição dos corpos celestes representados pelo sol e pelas fases da lua. Por conseguinte, seguir o Caminho do Tao é seguir o fluxo da natureza, assim como o fluxo do rio. É viver em conformidade com os princípios que regem o céu e a terra. É observar e perceber que as mesmas leis que nutrem e dominam as forças do cosmo, age diretamente sobre aquele intermediário entre o céu e terra o homem. (Dulcetti Junior, 2001).
Desde os tempos antigos, considera-se que a existência do homem dependa do Intercâmbio da variação das energias do Yin e Yang. Por isso, a Vida humana se baseia no Yin e no Yang.
Todas as coisas sobre a terra e no espaço se comunicam com as energias Yin e Yang. O ser humano é um pequeno Universo, já que o corpo humano tem tudo que o universo tem. (SUWEN, cap. 3, 2001, p. 36).

O Yin e Yang representam os dois pólos de uma mesma moeda indissolúveis e indissociáveis. Ambos coexistem, bem como vemos nos aforismos de Lao Tsé:
Se todos na terra reconhecem a beleza como bela, desta forma já se pressupõe a feiúra.
Se todos na terra reconhecem o bem como o bem, deste modo já se pressupõe o mal.
Porque ser e não- ser geram-se mutuamente.
O fácil e o difícil se complementam. O Longo e o curto se definem um ao outro. O Alto e o baixo convivem um com o outro.
A voz e o som casam-se um com o outro. O antes e o depois se seguem mutuamente. (TAO TE CHING WIHELM, 1995, p. 38).

Os ideogramas tradicionais que se referem ao Yang e Yin trazem na origem filológica do Yang o significado de montanha e sol, ou seja; a parte frontal da montanha na qual o sol incide sua Luz.  E na pictografia do Yin montanha e sombra, trazendo consigo a idéia do outro lado da montanha a onde se projeta a sombra. O Yang pode ser observado nos aspecto da natureza como: céu, fogo, quente, claro, luminoso, dia, verão, superficial, exterior, movimento, sol, masculino. O Yin se manifesta na terra, água, frio, escuro, sombra, noite, profundo, interior, repouso, lua, feminino. (Dulcetti Junior, 2001).
Além de representados na natureza os aspectos do Yin e Yang encontram-se na topografia anatômica do ser humana e partir desta, pode ser observado e estudado todo mapeamento energético desenvolvido na medicina Tradicional Chinesa. Os chineses observaram que cada uma das partes yin e yang de um determinado fenômeno podem ser subdivididos em novos aspectos Yin e Yang. Tome-se como exemplo os órgãos denominados na MTC Zang, considerados maciços e localizados mais internamente no corpo e de natureza Yin. Sendo responsáveis pela transformação e armazenamento das substâncias fundamentais. Enquanto que as vísceras de natureza oca, com características Yang, denominadas na MTC de Fu, com a Função Yang de absorção, transporte dos nutrientes e excreção de resíduos. (Freire Junior, 1996).


Esta mesma divisão pode ser aplicada ao corpo de uma maneira global, tendo em vista a parte da frente e costas, lado interno e externo, membros superiores e inferiores e entre cabeça e peito, ou dividindo o ser humano no meio a partir do umbigo, tendo como referência a parte superior do corpo como sendo de característica Yang levando em consideração sua porção mais Yang do corpo a cabeça, pois está é a que possui mais proximidade com o céu, de característica redonda, similar à abóboda celeste e a parte inferior Yin, representa na sua porção mais Yin pelos pés, que são chatos como a crosta terrestre e estão permanentemente em contato e em proximidade com a terra.
O Yin corresponde a Falta de movimento e sua energia simboliza a terra; o Yang corresponde ao movimento e sua energia simboliza o céu, portanto, o Yin e Yang são os caminhos da terra e do Céu.(SU WEN, Cap 5, 2001,p.49).

Por: Valério Lima

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