O Tao
“O Tao
que pode ser pronunciado não é o Tao eterno.
O nome que pode ser proferido não é o nome eterno...”. (TAO TE CHING, cap I,1995,p 37).
Tentar definir o Tao é definir o indefinível, explanar sobre o inefável. Pois o Tao verdadeiro se oculta e se esconde
por entre as forma manifestas do mundo. Sua existência brota do vazio, da não
forma e sua compreensão está além do intelecto racional.
A Palavra Tao possui o Sentido de Via ou Caminho e as primeiras menções ao Tao
pode ser encontrado tanto no Livro das mutações (I Ching) Quanto no Clássico da
filosofia Taoísta, O Livro do Caminho
Perfeito (Tao Te Ching, escrito pelo
sábio chinês Lao Tsu). Que propõe o
Caminho do sábio, Através da via harmoniosa da vida e da natureza. Viver de
acordo com o Tao segundo Lao Zi é
saber respeitar o fluxo da natureza, os ciclos das estações e do cosmos. Se
enquadrando na formação ternária Céu, homem, terra. Assim como os sábios
imortais Taoistas que viveram segundo o Tao
e atingiram a longevidade, saúde e realização espiritual, como vemos no
capítulo I do Nei Jing Su Wen no dialogo entre Huang Ti e o Mestre Qi Bo:
Aqueles
que nos tempos antigos Conheciam a maneira de conservar uma boa Saúde, sempre
nortearam seu comportamento do dia-a-dia de acordo com a natureza. Seguiam o
principio do yin e Yang e se conservavam de conformidade com a arte da
profecia, baseada na interação do Yin e Yang. Eram capazes de modular sua vida
diária em harmonia, de forma a recuperar a essência vital, portanto podiam se
cuidar e praticar a maneira de preservar uma boa Saúde.(SU WEN apud WANG, cap.1,2001,p.25)
Seguir o Tao implicava não somente em uma observação da natureza, mas bem
como nas práticas taoístas de manutenção da saúde e da força vital, existentes
na medicina Tradicional Chinesa tais como: Chikung,
dietética, acupuntura, Moxabustão e etc.
Tentar entender o Tao e seu conceito dentro da MTC é levar a cabo a compreensão da
ínfima parte deste, que se mostra na natureza, através das potencialidades representadas
no símbolo do Tai Chi, nas formas do Yin e Yang, estes em última instância, são os únicos aspectos do Tao os
quais podem ser observados e percebidos por estas duas forças opostas,contudo complementares.
No Plano Absoluto do Tao impera o
vazio como força manifesta e como potencialidade no plano manifesto e relativo
do yin e yang.
O
Yin/Yang são as manifestações transitórias do Tao.
O Tao gera duas
polaridades complementares: o Yang e Yin, sendo que o Yang contém o Yin e vice-versa.
Ambos interagem, transformando-se num ciclo ritmado, o Tai Ji.(DULCETTI JUNIOR,
2000,p.43).
Tai Chi
O Tai
Chi (Tai Ji) e sua simbologia aparecem pela primeira vez no clássico de
sabedoria oracular denominado I Ching (O
Livro das mutações) e remonta a dinastia Chou(1150-249
a.C.), Curiosamente segundo Henry Normand (1993) em
seu celebre livro Os Mestres do Tao o
“Sentido geral do I Ching está
incluído no caráter do I, que significa Camaleão”, daí a tradução por mutação ou
transformação. Pois assim como o cameleão muda de cor conforme o lugar e
situação, assim é a natureza do Tao
no plano relativo do Yin e Yang. O mesmo pode ser observado no I Ching pelos seus signos denominados Kua, que a partir de combinações de
linhas Yin e yang no formato de dois trigramas, formam um dos 64 hexagramas, os
quais representam os movimentos ou
manifestações transitórias do Tao na
Natureza, bem como os movimentos de transição dos corpos celestes representados
pelo sol e pelas fases da lua. Por conseguinte, seguir o Caminho do Tao é seguir o fluxo da natureza, assim
como o fluxo do rio. É viver em conformidade com os princípios que regem o céu
e a terra. É observar e perceber que as mesmas leis que nutrem e dominam as
forças do cosmo, age diretamente sobre aquele intermediário entre o céu e terra
o homem. (Dulcetti Junior, 2001).
Desde
os tempos antigos, considera-se que a existência do homem dependa do Intercâmbio
da variação das energias do Yin e Yang. Por isso, a Vida humana se baseia no
Yin e no Yang.
Todas
as coisas sobre a terra e no espaço se comunicam com as energias Yin e Yang. O
ser humano é um pequeno Universo, já que o corpo humano tem tudo que o universo
tem. (SUWEN, cap. 3, 2001, p. 36).
O
Yin e Yang representam os dois
pólos de uma mesma moeda indissolúveis e indissociáveis. Ambos coexistem, bem
como vemos nos aforismos de Lao Tsé:
Se
todos na terra reconhecem a beleza como bela, desta forma já se pressupõe a
feiúra.
Se
todos na terra reconhecem o bem como o bem, deste modo já se pressupõe o mal.
Porque
ser e não- ser geram-se mutuamente.
O
fácil e o difícil se complementam. O Longo e o curto se definem um ao outro. O
Alto e o baixo convivem um com o outro.
A
voz e o som casam-se um com o outro. O antes e o depois se seguem mutuamente. (TAO
TE CHING WIHELM, 1995, p. 38).
Os ideogramas tradicionais que se
referem ao Yang e Yin trazem na origem filológica do Yang o significado de montanha e sol, ou
seja; a parte frontal da montanha na qual o sol incide sua Luz. E na pictografia do Yin montanha e sombra, trazendo consigo a idéia do outro lado da
montanha a onde se projeta a sombra. O Yang
pode ser observado nos aspecto da natureza como: céu, fogo, quente, claro,
luminoso, dia, verão, superficial, exterior, movimento, sol, masculino. O Yin se manifesta na terra, água, frio,
escuro, sombra, noite, profundo, interior, repouso, lua, feminino. (Dulcetti
Junior, 2001).
Além de representados na natureza os aspectos do Yin e Yang encontram-se na topografia anatômica do ser humana e partir
desta, pode ser observado e estudado todo mapeamento energético desenvolvido na
medicina Tradicional Chinesa. Os chineses observaram que cada uma das partes yin e yang de um determinado fenômeno podem ser subdivididos em novos
aspectos Yin e Yang. Tome-se como exemplo os órgãos denominados na MTC Zang, considerados maciços e localizados
mais internamente no corpo e de natureza Yin.
Sendo responsáveis pela transformação e armazenamento das substâncias
fundamentais. Enquanto que as vísceras de natureza oca, com características Yang, denominadas na MTC de Fu, com a Função Yang de absorção, transporte dos nutrientes e excreção de resíduos.
(Freire Junior, 1996).
Esta mesma divisão pode ser aplicada ao corpo
de uma maneira global, tendo em vista a parte da frente e costas, lado interno
e externo, membros superiores e inferiores e entre cabeça e peito, ou dividindo
o ser humano no meio a partir do umbigo, tendo como referência a parte superior
do corpo como sendo de característica Yang
levando em consideração sua porção mais Yang
do corpo a cabeça, pois está é a que possui mais proximidade com o céu, de característica
redonda, similar à abóboda celeste e a parte inferior Yin, representa na sua porção mais Yin pelos pés, que são chatos como a crosta terrestre e estão permanentemente
em contato e em proximidade com a terra.
O
Yin corresponde a Falta de movimento e sua energia simboliza a terra; o Yang
corresponde ao movimento e sua energia simboliza o céu, portanto, o Yin e Yang
são os caminhos da terra e do Céu.(SU WEN, Cap 5, 2001,p.49).
Por: Valério Lima